30 de abril de 1945 - Hitler e Eva Braun se suicidam.
Adolf Hitler, ditador da Alemanha entre 1933 e 1945, e sua esposa Eva
Braun, se suicidaram no dia 30 de abril de 1945. Leia sobre os últimos
dias que antecederam suas mortes.
"Se não chegarmos a triunfar
não nos restaria senão, ao soçobrarmos, arrastar conosco metade do mundo
neste desastre". - Hitler a H.Rauschning, "Gesprache".
O ambiente no bunker era tenso, sufocante. Faziam mais de cem dias,
entre entradas e saídas, que um pequeno grupo de funcionários, oficiais e
oligarcas nazistas, estavam lá entocados como lobos acuados ao redor de
Adolf Hitler. Construída nos jardins da Chancelaria do Reich, em
Berlim, a casamata tinha a função de protegê-los dos ataques aéreos
aliados que devastavam a capital da Alemanha. Acentuando ainda mais a
situação troglodita e claustofóbica em que viviam, chegou-lhes a notícia
que o Exército Vermelho estava às portas. No dia 18 de abril de 1945,
um colossal vagalhão blindado de tanques, canhões e aviões, esparramou
dois milhões e meios de soldados russos para as cercanias da cidade.
Mais de um milhão deles combateram uma espetacular batalha de ruas,
contra as derradeiras forças da resistência alemã. Ao preço de 300 mil
baixas, os soviéticos penetraram-na por todos os lados.
A última aparição de Hitler
Hitler ainda recebeu alguns convidados mais próximos para seu
aniversário em 20 de abril. Há uma foto dele na ocasião. Com a gola do
capote levantada, ele cumprimenta, do lado de fora da Chancelaria do
Reich destruída, alguns jovens garotos da juventude nazista que haviam
se destacado na defesa desesperada da cidade. O Führer estava uma ruína
humana. Os últimos acontecimentos haviam-lhe retirado a seiva. Sua tez
acinzentou-se, o rosto encovou-se e os olhos adquiriram uma opacidade de
semimorto. Para consolá-lo e sacudi-lo da letargia depressiva em que se
encontrava, Joseph Gobbels, seu Ministro da Propaganda, lia-lhe
diariamente trechos da "História de Frederico o Grande", de Carlyle,
especialmente a passagem onde é narrada a milagrosa salvação daquele
capitão-de-guerra prussiano na Guerra dos Sete Anos (1756-63), que
escapou do destino dos derrotados devido a um desacerto ocorrido entre
seus inimigos.
A determinação de ficar ali e travar a batalha
final foi tomada numa reunião no dia 22. Inspirando-se na tradição
nórdica do herói que morre solitariamente num último combate, ou no
sepultamento do guerreiro viquingue incinerado no seu barco de comando,
Hitler comunicou a todos a intenção de comandar pessoalmente as
operações. Recebeu, porém, telefonemas de alguns seguidores e de outros
generais que instaram para que se retirasse enquanto havia tempo. O
Führer manteve-se intransigente. Ninguém o arrastaria para fora da liça.
O atentado de 20 de julho e o desencanto
Uma das razões, mais remotas, da aparência cinzenta e desencantada de
Hitler, resultou do choque que ele teve, nove meses antes, do atentado
cometido contra a sua vida. Naquela ocasião, no dia 20 de julho de 1944,
um grupo de conspiradores, quase todos altos membros da hierarquia
militar e integrantes da nobreza alemã, conseguiram fazer com que o
coronel do estado maior Claus Schenk von Stauffenberg, colocasse uma
bomba no quartel-general do Alto Comando. O artefato explodiu na sala de
reuniões onde Hitler estava presente, mas apenas provocou pequenas
escoriações nele. Refeito do susto, o ditador ordenou uma caçada em
massa contra todos os envolvidos, que terminaram executados depois de
serem sumariamente condenados à morte num Tribunal Popular. O outro
motivo que levou Hitler a desejar suicidar-se, e em seguida ser
incinerado, decorreu da notícia que ele recebeu do destino infausto do
ditador fascista Benito Mussolini. O Duce fora capturado em Dongo, no
norte da Itália, por partisans comunistas, e seu corpo foi exposto,
pendurado de cabeça para baixo num posto de gasolina em Milão, junto ao
da sua amante Claretta Petacci, em 28 de abril de 1945. Hitler temia que
seu cadáver fosse profanado ou levado como troféu de guerra para a
URSS.
O casamento e uma traição
Poucos dias depois de
ter tomado a decisão definitiva, resolveu formalizar sua união com Eva
Braun, encomendando um casamento de emergência dentro do abrigo. O casal
decidira por fim à vida juntos. Hitler tinha-se mantido solteiro, até
então, em nome da mística que sua solitária figura messiânica exercia
sobre o povo alemão. O salvador não poderia ser um homem comum, com
esposa e filhos, envolvido pela contabilidade doméstica, e na rotina
matrimonial burguesa.
Teve ainda um espumante ataque de fúria
quando soube (ele, mesmo nos estertores, ainda era informado de tudo),
que Heinrich Himmler, o Reichsführer SS, havia, às suas costas, à
socapa, contatado com o legatário sueco, o conde Bernadotte, para
negociar uma paz em separado com os exércitos ocidentais, que avançavam
Alemanha a dentro vindos do Rio Reno. Numa das suas derradeiras ordens,
determinou a expulsão sumaria dele do Partido Nazista, exonerando-o de
todos os cargos de chefia. Mas aquela altura de nada adiantava.
O momento final
No dia 29 de abril, deu-se a reunião final. O General Weidling,
governador militar de Berlim, e comandante da LVI Panzer Corps, ainda
aventou a possibilidade de uma escapada pelas linhas soviéticas, mas
Hitler o dissuadiu. Não tinham nem tropas, nem equipamento, nem
munições, para qualquer tipo de operação. Era ficar e morrer!
O
Führer então despediu-se formalmente das pessoas mais próximas que
ainda o seguiam até aquele momento. Pressentindo o suicídio, os que
estavam no bunker reagiram de uma maneira inesperada. Muitos, após
colocarem discos na vitrola, puseram-se a dançar e alegremente,
confraternizaram com os demais, como se um esmagador peso,
repentinamente, tivesse sido removido de cima deles. O fascínio de
feiticeiro que Hitler exercera sobre eles cessara como que por encanto.
Depois do almoço, no dia 30 de abril, trancou-se com Eva Braun nos seus
aposentos. Ouviu-se apenas um tiro. Quando lá penetraram encontraram-no
com a cabeça estraçalhada à bala e com a pistola caída no colo. Em
frente a ele, em languidez de morta, estava Eva Braun, sem nenhum
ferimento visível. Ela ingerira cianureto, um poderosíssimo veneno. Eram
15:30 horas! Rapidamente os dois corpos, envolvidos num encerado, foram
removidos para o pátio e, com o auxilio de 180 litros de gasolina que
os embeberam, formaram, incendiados, uma vigorosa pira. Ao redor deles,
uma silenciosa saudação fascista prestou-lhes a homenagem derradeira.
Berlim, o mausoléu de Hitler
Lá fora, a capital do IIIº Reich também ardia num colossal braseiro.
Monumentos, prédios públicos, palácios, edifícios, casas, praças e
avenidas, pareciam um entulho só. Os sobreviventes, apavorados com o
terrível rugido dos canhões e das bombas, que lhes soavam como se fosse o
acorde final do "Gotterdammerung", o wagneriano "Crepúsculo dos
Deuses", acreditavam que a hora do apocalipse chegara. Berlim, com 250
mil prédios destruídos, virara um cemitério lunar. A grande cidade,
transformada em ruínas, assemelhava-se a um fantástico mausoléu erguido
pela barragem de fogo aliada para sepultar uma das monstruosidades do
século. Hitler suicidara-se aos 56 anos, e o seu regime, que segundo
seus propagandistas mais pretensiosos deveria ser o Reich de Mil Anos,
naufragou com ele doze anos depois dele ter assumido a Chancelaria da
república alemã, em janeiro de 1933.
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